Brasília perdoa dívidas com países ditatoriais africanos, mas corte repasse de verba federal ao nosso irmão Rio Grande

Perdão às dívidas de países africanos soma US$ 717 mi
RAFAEL MORAES MOURA , BRASÍLIA

Governo defende medidas como estratégicas, mas, em alguns casos, críticos dizem que perdão acaba beneficiando ditaduras
Em um gesto criticado por, em alguns casos, beneficiar ditaduras, a presidente Dilma Rousseff e o seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, renegociaram US$ 1,036 bilhão de dívidas de países – quase todos africanos. Desse volume, US$ 717 milhões foram perdoados – 69,2% do volume total das operações financeiras.

Em dois anos e sete meses, Dilma reestruturou a dívida de cinco países – US$ 431,2 milhões -, dos quais US$ 280,3 milhões foram perdoados. Foram beneficiados Gabão, Senegal, Sudão, República do Congo e São Tomé e Príncipe – neste último, a dívida foi reescalonada e os prazos de pagamento alterados.

A maioria dessas dívidas foi adquirida a partir de meados dos anos 1960, em financiamentos à exportação de bens e serviços brasileiros realizados por meio de convênio de crédito entre o Banco do Brasil e governos estrangeiros, via Fundo de Financiamento às Exportações (Finex), hoje extinto.

Nos oito anos de Lula (2003-2010), foram perdoados US$ 436,7 milhões em dívidas de quatro países: Moçambique (US$ 315,1 milhões), Nigéria (US$ 84,7 milhões), Cabo Verde (US$ 1,2 milhão) e Suriname (US$ 35,7 milhões). Em Moçambique, foram perdoados 95% da dívida, a maior proporção da década.

“Na África nós temos tido um grande empenho em expandir as nossas relações culturais, comerciais e de investimento. Para tornar mais fluida essa relação, viemos resolvendo esses problemas para poder ter uma relação agora mais efetiva”, disse Dilma em maio passado, durante viagem à Etiópia para participar das comemorações dos 50 anos da União Africana.

Renegociação. Na ocasião, Dilma anunciou que reestruturaria a dívida de 12 países africanos – ainda falta o Senado aprovar relatórios de Costa do Marfim, República da Guiné, Guiné-Bissau, Mauritânia, República Democrática do Congo, Tanzânia e Zâmbia. A legislação autoriza a União a conceder “remissão parcial” – e não total – das dívidas, em negociações bilaterais ou entendimentos do Clube de Paris – um fórum intergovernamental de credores.

“O mecanismo de alívio das dívidas é positivo para os países endividados, pois abre novas formas de investimento externo. E também para o país que alivia a dívida, que geralmente quer investir no país endividado. É uma forma clássica, não inventada pelo Brasil”, disse José Flávio Sombra Saraiva, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro África Parceira do Brasil Atlântico.

No caso de Moçambique, observa Saraiva, a renegociação da dívida começou no governo de Fernando Henrique Cardoso e produziu resultados positivos. O perdão, no entanto, não deve ser praticado “de forma automática e para todos”, avalia.

“Que o país africano apresente desempenho na construção de sociedade e governo democráticos. Deverá haver aí uma barreira democrática. Esse seria um elemento importante, pedagógico mesmo, se o Brasil quer exportar um modelo diferente da China”, acrescenta o professor.

Para o senador José Agripino (RN), presidente nacional do DEM, a renegociação é uma “doação maquiada”. “É agressão à pobreza brasileira perdoar dívida de país corrupto onde ditador tem quatro Rolls-Royce e três Ferrari”, critica Agripino, que atribui a renegociação às tentativas do governo de conquistar um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

 

Leia mais: globo news-perdão de dívidas a países africanos

Bloqueio de contas do RS agrava atraso em repasses, diz Famurs

Serviços públicos para a população devem ser afetados, diz entidade.
Saúde e transporte escolar já somam mais de R$ 240 milhões a receber.

O bloqueio das contas do Rio Grande do Sul em agosto 2015 pela União deve agravar o atraso de repasses e afetar a prestação de alguns serviços para a população, diz a Federação das Associações de Municípios do estado (Famurs). Segundo a entidade, as áreas mais atingidas devem ser saúde e educação, que já sofrem com a falta de recursos.

A medida foi confirmada na terça-feira (12) pela Secretaria do Tesouro Nacional por conta do calote do Palácio Piratini no pagamento da parcela de julho da dívida com a União. A retenção de recursos e o corte em repasses de verbas federais estão previstos no contrato da dívida.

Nesta quarta (12), foram bloqueados mais R$ 11 milhões, segundo o governo estadual. O novo bloqueio se refere à entrada de pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Na terça (11), R$ 69 milhões já tinham sido retidos. Para quinta (13), são esperados mais R$ 150 milhões bloqueados, também de ICMS.

O governo federal deve recolher todos os recursos que ingressarem na conta até atingir a soma de R$ 264 milhões, o montante da parcela de julho da dívida do Estado.

A Secretaria da Fazenda acredita que o bloqueio deve durar até a próxima terça-feira (18). Até lá, o governo o governo do Estado não terá controle sobre o caixa e não poderá fazer nenhum pagamento ou repasses para hospitais e prefeituras. “Isso vai agravar ainda mais, de forma forte, e impactar em nossa situação financeira”, disse o secretário Giovani Feltes.

Segundo a Famurs, o sequestro dos recursos também terá impacto nas prefeituras nas áreas de assistência social, agricultura, infraestrutura e segurança pública. A entidade vai apresentar nesta quinta-feira (13) mais dados sobre o impacto que o bloqueio provoca em cada área.

Só na área da saúde as dívidas do governo do Estado com as prefeituras chegam a R$ 233 milhões, diz o presidente em exercício da Famurs e prefeito de São João da Urtiga, Paparico Bacchi. Para o transporte escolar, são mais R$ 10 milhões atrasados.

A segurança pública também deve ser afetada a curto prazo. Só em diárias da Brigada Militar são R$ 2,7 milhões atrasados, que o governo pretendia quitar nos próximos dias. Conforme a Abamf, que representa os servidores de nível médio da Brigada Militar, há casos de policiais que não recebem diárias há dois meses.

O presidente da Abamf, sargento Leonel Lucas, diz que a entidade estuda uma medida jurídica para que os policiais não sejam obrigados a trabalhar em situações que exigem o pagamento de diárias caso o valor não seja pago antecipadamente, já que muitos policiais estão tendo de tirar do próprio bolso esses recursos.

 

 

 

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