Breve história do sentimento emancipacionista do Povo Sulista

Lideranças do Movimento O Sul é o Meu País junto a Estátua em homenagem ao primeiro líder e herói do Sul, Guayracá, em Guarapuava, Paraná.
Em cada casa, esquina, estádio, fábrica, escola, universidade, enfim, em todos os cantos de nossa amada terra Sulista os gritos de nossos heróis Guayracá e Sepé Tiaraju ecoam novamente, de norte a Sul… “Co Yvy Oguereco Yara”… É a divisa de luta nos chamando… Os clarins da batalha já se ouvem… Dia 7 de outubro, nosso glorioso exército estará novamente reunido, desta vez nas urnas, votando e assinando o Projeto de Lei da nossa liberdade.
De pé e a ordem soldados pacifistas do Sul!!!

 

Celso Deucher*

Nascido em Laguna/SC em 9 de abril de 1992, o Movimento O Sul é o Meu País completou 25 anos de atuação em 2017 e no próximo dia 7 de outubro vai realizar a maior Consulta Popular do Brasil sobre a opinião do nosso povo em relação a independência do Sul. Hoje somos o maior e mais importante Movimento de defesa do direito de autodeterminação da América Latina e não foi com pouca luta que chegamos até aqui. Nós, os atuais ativistas desta organização declaramo-nos herdeiros de uma tradição de resistência a opressão do poder central, hoje encastelado em Brasília, sede do governo brasileiro.

A história emancipatória do Sul começa em 1554, pouco depois do descobrimento do Brasil. Naquele momento histórico surge pela primeira vez, um sentimento nativista de amor a terra Sulista unindo nosso povo para lutar contra Portugal e Espanha, que disputavam este território. Liderados pelo grande herói Cacique Guayracá, fomos a guerra para defender nosso território. O resultado deste primeiro embate foi que os invasores assassinaram covardemente grande parte do nosso povo, sendo que poucos conseguiram escapar. Venceram a guerra, mas não mataram nosso sentimento de liberdade. A República Del Guayra que abrangia grande parte do atual estado do Paraná e um pedaço de Santa Catarina fincou seu nome na história deixando claro aos invasores que “Esta Terra Tem Dono”.

Os compatriotas que conseguiram fugir, cerca de 80 anos depois, voltam ao nosso território e mais uma vez reorganizam nossa civilização nos Sete Povos das Missões. Novamente o Brasil nos negou o direito a nossa própria terra, perseguindo e por fim chacinando praticamente todos os habitantes das Missões. Desta guerra nasceria outro grande líder e herói da resistência Sulista, Sepé Tiarajú, que lutou sob a mesma divisa de Guayracá em todas as batalhas: Co Yvy Oguereco Yara (esta terra tem dono).

O sentimento de autogoverno voltaria à tona logo em seguida, em 1835, com a Revolução Farroupilha, quando novamente o Sul se levantou contra o Poder Central e desta vez conseguiu, por 10 anos, manter uma República Independente do Império Brasileiro. Mais uma vez, pelo uso da força, os Sulistas foram vencidos nos campos de batalha e obrigados a assinar um Tratado espúrio de Paz com o Brasil, depondo as armas e voltando ao trabalho para sustentar os corruptos e corruptores do poder central.

Mas essa Paz entre Sulistas e o Brasil durou pouco. Em 1883, pelos mesmos motivos, a falta de autogoverno, estourou a Revolução Federalista englobando os três estados meridionais e mais uma vez, o Brasil promoveu um banho de sangue, vencendo-nos através do terror das degolas e do assassinato em massa de nossos líderes na Ilha de Inhatomirim em Desterro, capital catarinense. Aliás, para nos humilhar ainda mais, o nome desta capital Sulista foi tragicamente mudado para “Cidade de Floriano” (Florianópolis), nome do tirano brasileiro que nos atacou. Mais uma vez perdemos a guerra e mais uma vez, tivemos que na marra, continuar sendo brasileiros.

Quando tudo parecia caminhar para duradouros anos sem conflito, em 1933, com a ascensão do ditador Getúlio Vargas ao poder, mais uma vez o Sul é atacado covardemente. Desta vez na sua cultura. Cunhamos já na década de 1990 a expressão “Genocídio Cultural no Sul do Brasil” para explicar e comprovar as perseguições, prisões e assassinatos ocorridos durante a 2ª Guerra Mundial em nosso território.

O que o Brasil fez conosco na década de 1940 foi uma tentativa de exterminar nossa diversificadíssima cultural, proibindo-nos de falar os idiomas de nossos antepassados e impondo apenas a língua portuguesa, e na marra. Hoje poderíamos ser um do povo poliglota falando até seis idiomas fluentemente (incluindo o Português) para nos comunicar com o próprio Brasil e com o mundo. Este verdadeiro genocídio cultural exterminou não apenas as línguas aqui faladas, mas seus significados. Todos sabemos que a língua de um povo é a condutora de sua cultura. Isso nos foi arrancado a ferro e fogo pelo poder central. Mais uma vez fomos obrigados a continuar sendo brasileiros na marra.

Hoje estamos tentando resgatar o que sobrou das nossas línguas originais a começar pelo Guarani e seus dialetos, o espanhol, o italiano, polonês, alemão, japonês, entre tantos outros idiomas que aqui existiam e que faziam e fazem parte daquilo que nós somos: Um povo unido pela sua diversidade étnica e cultural. Por isso nosso orgulho de lutarmos juntos moldando nossa unidade pela nossa diversidade.

Passados os anos de guerra, uma relativa paz entre o poder central e os Sulistas fez-se sentir, até 1986, quando mais uma vez, a República Brasileira, já enclausurada no Planalto Central (Brasília), promove uma guerra civil não declarada entre as oligarquias regionais e jogam o País numa crise política e econômica que dura até os dias atuais.

Neste clima, nós, os emancipacionistas, voltamos a carga e criamos, em 1992, uma entidade legalmente constituída, para defender a causa do Povo Sul Brasileiro. O Movimento O Sul é o Meu País, representando este Povo, resolveu definitivamente depor as armas e abraçou a luta pacífica e plebiscitária, como estratégia para discutir e preparar o terreno para que esta brava gente possa tomar em suas mãos a conquista sagrada do seu direito de autodeterminação.

Ao chegar nos seus 25 anos, o Movimento se tornou a maior entidade de defesa do direito de autodeterminação dos povos da América Latina e está lastreado em mais de 960 municípios da região Sul do Brasil. Possui em seu histórico, batalhas e causas de peso vencidas contra o poder central, cujas vitórias garantiram a seus ativistas a liberdade de hoje poder se reunir e se organizar para defender a proposta de secessão, dentro da legalidade.

Uma das maiores conquistas foi, sem dúvida, vencer a inércia e a falta de mobilização dos Sulistas nos anos 1990 e chegar a 2017 com quase 30 mil militantes e lideranças e com uma aprovação de mais de 95% da população, ou seja, 27 milhões (dos 29,5 milhões) de cidadãos deste território.

É por este histórico e por estes motivos que cremos estarmos preparados e suficientemente maduros para exercer, com sabedoria e responsabilidade, o direito de decidir o futuro de nosso povo. Neste dia 7 de outubro, daremos mais um grande passo rumo a este futuro, votando e assinando conforme mandar nossa consciência. Ninguém pode nos tirar esta liberdade de decidir como queremos nosso futuro.

Em cada casa, esquina, estádio, fábrica, escola, universidade, enfim, em todos os cantos de nossa amada terra Sulista os gritos de nossos heróis Guayracá e Sepé Tiaraju ecoam novamente, de norte a Sul… “Co Yvy Oguereco Yara”… É a divisa de luta nos chamando… Os clarins da batalha já se ouvem… Dia 7 de outubro, nosso glorioso exército estará novamente reunido, desta vez nas urnas, votando e assinando o Projeto de Lei da nossa liberdade.

De pé e a ordem soldados pacifistas do Sul!!!

*O autor é jornalista, historiador, ex-presidente e um dos fundadores do Movimento O Sul é o Meu País.

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